Na era da economia digital e conectada, os dados dos usuários são considerados o novo petróleo, pois são fonte expressiva de receita de muitos negócios na internet, incluindo as principais redes sociais que utilizamos em nosso dia a dia. Em vista do valor desses dados, são comuns os episódios de abuso na utilização de informações pessoais e de vazamento de informações. É nesse contexto que se insere a importância do tema de privacidade e proteção de dados.
Você já teve a sensação de que estava sendo ouvido pelo seu celular ao encontrar um anúncio de algum produto relacionado exatamente a alguma conversa que teve alguns dias ou horas antes? Esse é um clássico exemplo de como as empresas podem explorar as informações dos usuários sem informá-los de forma transparente. Celulares e dispositivos vestíveis (wearables) podem registrar dados pessoais e repassar para qualquer um dos diversos aplicativos instalados, os quais também podem acabar repassando para terceiros, dependendo das condições de uso. O mesmo também pode ocorrer com os dados de navegação dos usuários pela internet, que podem ser revendidos para anunciantes externos conforme o comportamento online de cada usuário. Será que essa forma de uso de informações ainda é permitida? Será que isso engaja ou reprime quem está do outro lado das telas?
Visando proteger os direitos do consumidor e pavimentar o caminho para quem deseja trabalhar com dados, entrou em vigor em setembro de 2020, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Essa lei permite que os titulares dos dados, ou seja, os consumidores, possam pedir quais informações cada empresa guarda a seu respeito, solicitar que essas informações deixem de ser armazenadas e utilizadas ou pedir para retificá-las. Segundo o advogado e especialista em tecnologia, Ronaldo Lemos, com a LGPD, não é mais permitido fazer tratamento de dados sem uma fundamentação jurídica no Brasil, ou seja, sem a aprovação ou consentimento dos usuários [1].
Na prática, com a LGPD, as empresas devem ser transparentes com os consumidores em relação ao uso e compartilhamento de suas informações. Elas devem mostrar quais as informações estão sendo armazenadas e analisadas, o motivo e com quem elas estão sendo compartilhadas. Além disso, tais informações só podem ser processadas se o consumidor estiver de acordo. O disparo de mensagens em massa por Whatsapp, por exemplo, que usa o telefone do cliente, só será permitido se ele autorizar.
Independente do caráter regulatório desta Lei, especialistas, como Ronaldo Lemos, tem ressaltado que ela deve ser vista também como um instrumento de fomento de inovação. A LGPD é uma oportunidade das empresas de se posicionarem de uma forma mais madura e inteligente empoderando o consumidor com o controle de seus dados e mostrando como tais informações podem ajudar a melhorar os produtos e serviços que lhe são ofertados. Afinal, compartilhar informações pessoais pode ser muito vantajoso em termos de personalizações.
Em uma pesquisa realizada pela Accenture no final de 2017, verificou-se que 65% dos clientes estão mais propensos a comprar de varejistas se forem reconhecidos, lembrados e se receberem recomendações relevantes [2]. De fato, em qualquer segmento, personalizações são diferenciais que conquistam os clientes. Mas para isso, eles devem se sentir seguros e confortáveis com a coleta de suas informações.
Uma empresa que tem se destacado quando o assunto é proteção de dados é a gigante Apple. Em janeiro deste ano, ela compartilhou um panfleto digital explicando como os dados são rastreados sem o usuário saber e passou a bloquear o rastreamento de dados para fazer propaganda [3]. Do outro lado da mesa, está o Facebook, que criticou a postura da Apple por estar supostamente prejudicando empresas menores. Saiba mais sobre esse assunto neste link.
Para aproveitar a oportunidade que está na mesa, de respeitar a privacidade dos clientes e valorizá-la, as empresas devem agir com transparência, entregando o controle sobre as informações pessoais para os clientes e demonstrando quais os benefícios de compartilhar essas informações. Aquelas que conseguirem agarrar essa oportunidade, sem dúvidas serão recompensadas. Sua empresa já repensou como pode valorizar a privacidade de seus clientes?
Tomás Lichfett Machado
Consultor de negócios na Zeta Dados.
[1] https://br.lexlatin.com/entrevistas/o-brasil-tem-planos-sofisticados-em-varias-areas-mas-muitas-vezes-pecamos-na
[2] https://www.accenture.com/_acnmedia/pdf-57/accenture-personalization-retail.pdf
[3] https://www.uol.com.br/tilt/colunas/ricardo-cavallini/2021/02/03/apple-pode-ajudar-a-virar-o-jogo-de-protecao-a-privacidade.htm
Saiba mais em: Expresso Futuro com Ronaldo Lemos – 2ª Temporada – Privacidade: https://www.youtube.com/watch?v=FDDci2Ooc5s&ab_channel=CanalFutura